Uma longa discussão foi travada por conta de um artigo "científico" sobre se o bolsa família gera renda (veja post anterior). Para quem quiser conferir, o artigo está no link:
http://www.ipc-undp.org/publications/mds/33P.pdf
(Agradeço aqui Warrior e Delmar pelos esclarecimentos).O objetivo do presente post e fazer uma análise desse artigo do senhor Paulo Henrique Landim Junior e seu prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho:
A idéia do trabalho desses autores é confrontar dois grupos: aqueles que mais se beneficiaram com o bolsa família, e o os demais que servirão como grupo de controle aos dados observados.
“Para aprofundar esta análise, destacamos os municípios onde mais de 50% da população é beneficiada pelo Programa Bolsa Família. Esses municípios foram comparados com outros, onde uma parcela menor da população é beneficiada. Para isso foram criados e analisados os dois grupos de municípios: aqueles em que mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF (grupo 1) e aqueles em que menos de 50% da população é beneficiada pelo PBF (grupo 2).” (página 10)
Feito essa divisão, é analisado, para cada grupo, o aumento do PIB e o aumento do bolsa família e constatado que com uma margem de confiança de 62,38% (ver regressão econométrica nas páginas 16 e 17) que o aumento do PIB e o aumento do repasse per capita nos municípios mais beneficiados são correlacionados.
Agora vamos refletir nesses números: por que eles são óbvios? A resposta é porque quase 62% da população ativa desses municípios recebeu o bolsa-família (página 11).
Sejamos mais radiciais para entender a questão. Vamos imaginar um outro cenário…Antes do bolsa-família, esses 62% da população não recebiam nada. Então, a partir de um certo ano, o governo passou a repassar o BF a essa população. Será que haverá alguma corelação do repasse com o PIB desses municípois? É evidente que sim, a população que contriui com o PIB do município quase triplicou.
O BF destinado a esses 712 municípios mais beneficiados não vieram deles (apenas uma fração ínfima – o PIB total desses municípios é de R$33.350.080.000,00 (página 11)), mas dos outros 4789 municípios da união. Isso chama-se repasse, e é o propósito do programa (transferir renda dos mais pobres para os mais ricos). O PIB influenciado pelo BF cresceu nessa região porque diminuiu (o PIB influenciado pelo BF) em outro lugar. É como tirar a água de um balde e jogar em outro, sugerir que como o primeiro balde está ficando seco, os baldes ficarão sem água.
Ainda, analisando o trabalho:
“Estimou-se um aumento de 0,06% no PIB per capita para cada aumento de 1% no valor de repasse per capita.”
Vamos aceitar a margem de confiança de 62% e concordar que para os 472 municípios mais beneficiados com o BF, ocorreu um aumento de 0,06% no PIB per capita para cada aumento de 1% no valor de repasse per capita, e, o que o estudo não fala, que nos demais municípios, de onde saiu esse dinheiro, o BF impactou negativamente no PIB. Daí, temos que é inaceitável concluir o seguinte:
“(..). Com base nessas informações é possível obter o benefício estimado da expansão do Programa Bolsa Família no ano de 2006. Para isso basta multiplicar 0,06 por 30,34. O valor obtido, 1,82%, é o impacto estimado do aumento de 30,34% no repasse per capita sobre o PIB dos municípios [TODOS]. Em 2006 o PIB brasileiro foi R$ 2.369.797.000.000 e, portanto um aumento de 1,82% neste significa um acréscimo de R$ 43.139.784.588,00.”
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